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Monday, November 18, 2013

ATÉ SEMPRE TRAVASSOS

 Por Agnelo A. Montrond, USA

Por Agnelo A. Montrond, USA

«O próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela», Fernando Pessoa


Inspirado por esta sábia frase de Fernando Pessoa, postulo que vivemos e morremos todos os dias. Morrer é viver eternamente.  Assim sendo, porquê tanto medo da morte, a única certeza estocasticamente incerta no universo probabilístico da vida?

Só morre quem um dia nasceu e ainda está vivo. «Nu ben pas es mundu, nu ten ki bai pa séu. Distinu sértu ki nos tudu nu ten ki kunpri-l». A vida não é mais do que uma caminhada rumo à morte. A contagem decrescente começa logo ao nascimento. Importa ter este facto constantemente em mente. Devíamos todos aprender a viver e conviver com os outros, lidar com a vida e preparar-mos para a morte.

Dia 11 de Novembro de 2013, um dia excelente para deixar de viver, o dia em que a morte inesperadamente bateu à porta de Miguel Travassos Rodrigues (07/15/1957 – 11/11/2013). Esta notícia de falecimento apanhou-nos de surpresa, mas como se sabe, a morte quando chega, vem sem avisar, e apanha-nos de surpresa, desprevenidos, indefesos e despreparados.

O corpo de Travassos  foi dado à terra hoje, dia 16 de Novembro de 2013, em Brockton, EUA. Travas, «Korpu é di txon, alma é di Déus». Uma multidão chorosamente acompanhou Travassos à sua última morada. Lágrimas de dor do saudoso e popular Travassos enfeitaram o cortejo fúnebre. As belas, eloquentes, e consoladoras palavras proferidas pelos pastores Nataniel Duarte e Benedito Monteiro pareciam ressonância na eternidade. O lindo poema de Norberto Teixeira (Gugu de Silvério),  as magníficas palavras proferidas pelo filho do Travassos, entre outras,  não compensaram a imensidão da dor que invadia o coração da minha querida madrinha Queta, e os das irmãs Maria, Armanda e Solange. Dor de saudades de um amigo, dor de separação do único filho e único irmão materno, dor da partida de um Mosteirense para a eternidade. Ficou demonstrado que acaba a valentia de uma mãe, e de uma irmã, quando o filho, ou irmão, que ela ama, parte para a eternidade.

Travassos e a sua família marcaram a minha infância. Ele  foi para mim um irmão, um mentor, um amigo das horas incertas, um companheiro, um líder, enfim uma figura que à imagem do seu pai, e meu padrinho, Armando José Rodrigues, inspira amizade e solidariedade na horizontalidade. Travas é morabeza de um filho de Djarfogu e cidadão do Mundo, mas também respeito e elevação « là où il faut». Agora és uma estrela no firmamento que lá do alto ilumina os nossos corações.

Naquele tempo, quando ainda eu era criança, Travassos benevolamente imperava na vila da Igreja e distinguia-se pelas suas cavalgadas «à la mode de l’époque». Era amigo de todos. Fazia tudo para mim, mesmo o quase impossível. Levava-me para Praia Lantxa, Béku, e pacientemente ensinava-me a nadar. Dizia-me com ternura: « Armandinho, cuidado para não te afogares. Fica cá perto. Estou a vigiar-te.»
Nas noites serenas, com brilhos do luar, do seu sobrado, segredava-me um futuro promissor que começou na cidade da Praia, na Rua Guerra Mendes (ex-rua Serpa Pinto), onde permaneceu por alguns anos antes de emigrar para os Estados Unidos. Ali fez-se distinto membro do Kazaku Pobri. Três proeminentes membros desse grupo de então, o Xodadi, o Kasula, e o Txalé, dignaram marcar presença e prestar tributo final ao falecido. Mais tarde, emigrou para os Estados Unidos, e aqui o nosso relacionamento sempre continuou reciprocamente familiar «à la française».

Travassos, hoje, que já estás no paraíso na divina companhia, deixaste-nos com imensas saudades, com tanta dor e tristeza, rezando pela tua alma, junto de Deus, Nosso Senhor. Ficam na minha memória, recordações de um exímio fidju di Djarfogu, esbelto, de olhos azuis, valente, de uma simplicidade invejável, de uma postura serena e elevada, de um Homem com qualidades superiores e raras.

Travassos, viverás para sempre na nossa memória colectiva.
Paz e eterno descanso à tua alma.
Até sempre Travassos.

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