Irmon Kabuverdianus, Nu Uza Y Divulga Alfabétu Kabuverdianu Ofísial(AK, ex-ALUPEC)

Monday, January 5, 2009

Fogo: Reinado vai percorrer a ilha graças a boa vontade de dois octogenários


2009-01-05 10:39:19

Por Jaime Rodrigues, da Agência Inforpress

São Filipe, 05 Jan (Inforpress) - O Reinado, uma tradição cultural típica da Ilha do Fogo e considerado uma das festas mais antiga da ilha, corre sério risco de desaparecer. Assinalada anualmente de 6 de Janeiro até ao dia das Cinzas, a tradição, que noutros tempos era transmitida de geração em geração, está condenada ao abandono devido à não envolvência dos jovens.


A origem do Reinado é um pouco duvidosa e poderá estar ligada à comemoração da festa dos Reis em Portugal. Nenhum dos homens envolvidos no Reinado sabe explicar, ao pormenor, a origem e a data da sua introdução na Ilha do Fogo, embora alguns considerem que esta tradição esteve ligada ao peditório para a construção da antiga Igreja Matriz de São Filipe - o que, pressupõe-se, aconteceu há algumas centenas de anos.


Antigamente, os Reinados eram constituídos por grupos de homens, três ou mais, católicos e praticantes, que andavam por toda a ilha, durante três luas, a realizar terços e pedindo ajuda a favor da Igreja, mas tempo houve em que cada confraria de Reinado era constituída por sete homens. Normalmente o grupo era constituído por um “rei” que dirige e controla tudo, um rei interino, tesoureiro e participantes.


Acredita-se que o objectivo maior do reinado era a evangelização e todos os integrantes do grupo teriam de ser católicos, baptizados/crismados, casados e escolhidos pelo padre.
Os Reis reúnem-se no dia 6 de Janeiro, na Igreja Matriz, onde assistem a uma missa, depois da qual cada Reinado segue o seu próprio itinerário, dando volta à Ilha. Cada um tem uma Santa (imagem era cedida pela igreja) como patrona - antigamente, as Santas eram recolhidas na Igreja, no final do Reinado, mas hoje são guardadas em casa.


O terço ou “ladainha” na maioria das vezes é rezado em latim. Além da imagem da Santa, o Reinado, dispõe de um pequeno tambor para anunciar a sua chegada, um sino e o rosário, utilizados durante a realização do terço.


Em outros tempos, a festa era assinalada com algum brilho. Segundo um dos Reis, costumava sair da Igreja Matriz 24 grupos de "reinados", constituídos por três ou mais homens. Mas hoje, são poucos os que, de casa em casa, andam cantando os seus terços. Muitos Reis morreram e a pouca participação de jovens são factores que determinam a "morte" do Reinado na Ilha do Fogo.
Filipe Fernandes “Nhô Tchina”, que no final de Março completa 81 anos e Manuel Socorro Lopes “Mané di Papa”, 83 anos, são os únicos “reis” vivos e que ainda ‘teimam’ em não deixar desaparecer a tradição, pelo menos, conforme afirmam, enquanto
estiverem com a energia suficiente.


Nhô Tchina, que tornou-se numa figura conhecida e acarinhada devido a sua participação na peregrinação (reinado) com a imagem de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, começou com 16 anos e desde então, todos os anos, religiosamente, no dia 6 de Janeiro, inicia o reinado que termina na quarta-feira de cinza. Aprendeu a recitar ladainha em latim com o padre Fidel no ano de 1948.


Por sua vez, Mané di Papa começou a “reinar” com 12 anos, acompanhando o pai, que em 1938 era tesoureiro da igreja. Nunca deixou de participar no reinado.


JR
Inforpress/Fim

No comments: